Paulo Borges

Vocação e Aspiração

Dizem que me chamo Paulo Borges e que nasci em Lisboa, a 5 de Outubro de 1959, mas a Vida tem-me ensinado a duvidar de ter verdadeiramente algum nome e de em absoluto haver nascido. Na verdade o que me move é a descoberta de ser inseparável do infinito espaço primordial, comum a todos os seres, e a aspiração a partilhar isso com todos os que possam ser receptivos a esta mensagem. É maravilhoso que haja em nós todos, em todos os seres vivos e em tudo quanto existe uma imensa e inabalável plenitude, perfeição e superabundância, mas é lastimável que, por andarmos dela esquecidos e distraídos, nos vejamos e sintamos tantas vezes tão limitados, incompletos e carentes, projectando isso no mundo à nossa volta. Recordar e reintegrar a infinita perfeição da nossa natureza primordial, reconhecê-la em todos os seres e fenómenos e experimentá-la em todas as áreas e aspectos da vida é a essência do que chamamos Visão Pura. Despertar para ela e a partir dela, unindo-a com a meditação e a acção sem separar sabedoria, amor e compaixão, é a essência desta iniciativa que partilho com a Daniela. Estou convicto de que só a partir desta profunda transformação da nossa percepção da realidade podem surgir uma consciência e uma ética globais que se traduzam num novo paradigma cultural e civilizacional que estenda a fraternidade dos humanos aos animais, a todas as formas de vida, à Terra e ao Cosmos, reconhecendo a interdependência e íntima conexão de tudo.

Percurso

Para quem possa desejar saber, partilho uma breve autobiografia. Descobri na infância o espanto e a estranheza de ser e cresci vendo-me pele-vermelha: a minha primeira publicação foram jornais manuscritos de um movimento de libertação dos índios norte-americanos que introduzia nas caixas de correio dos vizinhos. A seguir veio o fascínio pelas pontes e a ânsia de as construir. Adolesci em romantismo e revolta, na paixão do amor absoluto e da revolução total, que depois descobri que tem de começar por dentro. Gritei-o nos palcos, enquanto vocalista dos Minas & Armadilhas. Transmutei o niilismo.

Primeiro quis estudar Arqueologia, mas percebi que a arché (origem) que buscava era a fonte primordial de tudo e assim concluí Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde fiz mestrado e doutoramento e hoje ensino.

Descobri as espiritualidades e sabedorias planetárias e de todas continuo a ser discípulo, bem como dos seus mestres, embora desde 1983 tenha compreendido a via do Buda como a que me é mais adequada para cumprir e transcender todas as vias em prol da libertação de todos os seres. Descobri entretanto Portugal e o seu sonho de universalidade, Quinto Império do espírito, do amor e da poesia.

Vislumbrei na Saudade a superação de todo o Fado no regresso ao Infinito que nunca deixámos de ser. Fascinei-me com o mito do Encoberto que há em cada um de nós e em tudo quanto existe. Convivi e convivo com a inspiração de Agostinho da Silva, a par de mestres como Sua Santidade o Dalai Lama, daqueles que refiro adiante e de todos os sábios de todas as tradições da humanidade. Cultivei e cultivo a cultura e o pensamento portugueses no que têm de mais universal e libertador, livre de nacionalismo. Amei e fui amado. Amo e sou amado. Tenho filhos da carne e do espírito. Verto a loucura e a lucidez em caminhar, meditar, estudar e ensinar, traduzir, escrever poesia, aforismos, filosofia, ficção e teatro, animar associações, conspirar movimentos, construir pontes, rasgar horizontes.

Tenho feito e sobretudo sentido que através de mim e de muitos se fazem muitas coisas: membro correspondente da Academia Brasileira de Filosofia; director da revista Cultura ENTRE Culturas (Todo o Mundo ENTRE Ninguém, na II série); sócio-fundador e ex-membro da Direcção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira; ex-presidente (2005-2013) e actual membro da Direcção da Associação Agostinho da Silva; sócio-fundador e ex-presidente da União Budista Portuguesa (2002-2014); co-fundador e presidente do PAN (2009-2014), do qual me desvinculei por desilusão com a política convencional e em busca de uma acção mais profunda no mundo; vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sociedade de Ética Ambiental; sócio-fundador e presidente do Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética, desde 2011; membro do grupo de investigação internacional sobre Emil Cioran, sediado na Universidade L’Orientale de Nápoles; membro do grupo de investigação internacional “Saudade”. Sou professor, desde 1988, no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador no Centro de Filosofia da mesma Universidade, onde coordeno o Seminário Permanente Vita Contemplativa. Práticas Contemplativas e Cultura Contemporânea e o Núcleo de Pensamento Português e Lusófono. Após ensinar Filosofia em Portugal durante muitos anos, actualmente ensino Filosofia da Religião, Pensamento Oriental, Filosofia e Meditação, Filosofia e Literatura e Antropologia Filosófica. Desde 2019 ensino também Medicina e Meditação na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Proferi centenas de conferências em Portugal e no estrangeiro e publiquei centenas de artigos em revistas científicas e obras colectivas, em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Roménia, Turquia, EUA, Brasil e Índia. Publiquei 50 livros de filosofia, aforismos, poesia, ficção e teatro. A lista completa dos meus livros pode ser consultada aqui: (* inserir link) Recebi um doutoramento Honoris Causa pela Universidade Tibiscus de Timisoara, Roménia, em 2017.

Percurso Budista

No que respeita ao meu percurso budista e às actividades meditativas mais directamente relacionadas com a iniciativa Visão Pura, tornei-me praticante de yoga e de meditação em 1981 e desde 1983 procuro praticar a via do Buda segundo a escola Nyingma do budismo tibetano. Os preciosos mestres de quem recebi os principais ensinamentos e transmissões, em Portugal, França, Áustria e Nepal, foram Dilgo Khyentse Rinpoche, Trulshik Rinpoche, Sua Santidade o Dalai Lama, Tenga Rinpoche, Sua Santidade Sakya Tridzin, Jigme Khyentse Rinpoche, Pema Wangyal Rinpoche e Mingyur Rinpoche. Concluí o ngöndro, as práticas preliminares do budismo tibetano, e outras práticas posteriores, sob a orientação de Jigme Khyentse Rinpoche e Tulku Pema Wangyal Rinpoche, nos retiros  paralelos em França e Portugal que frequento desde 1999 até hoje. Sigo desde 2016 os retiros e as formações Joy of Living e Nectar of the Path sob orientação de Mingyur Rinpoche, no seio da Comunidade Internacional de Meditação Tergar. Sou um dos líderes de prática do Grupo de Prática Tergar de Lisboa. Integrei a partir de um retiro em Londres, em 2012, os ensinamentos de Thich Nhat Hanh da escola Linji (Rinzai) do budismo Ch’an/Zen, tendo recebido a transmissão dos Cinco Treinos da Atenção Plena. Fiz também um retiro de Meditação Cristã com Frei Laurence Freeman, em Fátima, em Março de 2017. Tenho organizado múltiplos encontros inter-religiosos de diálogo e meditação, área que me apaixona.

Actualmente

Sou professor de meditação e filosofia budista desde 1999, tendo orientado centenas de aulas, cursos, workshops e retiros em todo o país. Tenho realizado workshops de meditação em escolas, empresas, estabelecimentos prisionais e instituições públicas, como o Ministério da Defesa, a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Fui professor de Técnicas Meditativas na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, em 2011-2012 e 2012-2013. Como referi, criei e ensino a disciplina Filosofia e Meditação na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, bem como a disciplina Medicina e Meditação na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Criei o programa de formação mediativa e reflexiva O Coração da Vida, uma via de consciência, bondade e sabedoria.

Traduções e livros

Traduzi 9 livros budistas, entre os quais: Estágios da Meditação, de Sua Santidade o Dalai Lama (2001), Livro Tibetano dos Mortos (2006) (com Rui Lopo), A Via do Bodhisattva, de Shantideva (2007), O Caminho da Grande Perfeição, de Patrul Rinpoche (2007) e O que não faz de ti um budista, de Dzongsar Jamyang Khyentse (2009). Dediquei ao budismo e à meditação os seguintes livros: O Budismo e a Natureza da Mente (com Carlos João Correia e Matthieu Ricard) (2006); O Buda e o Budismo no Ocidente e na Cultura Portuguesa (com Duarte Braga) (2007); Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a via do Despertar (2010); O Coração da Vida. Visão, meditação, transformação integral (guia de meditação) (2015, 2017, 2ª edição); Meditação, a Liberdade Silenciosa. Da mindfulness ao despertar da consciência (2017); Do Vazio ao Cais Absoluto ou Fernando Pessoa entre Oriente e Ocidente (2017); Vazio e Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso (2018).

Enfim, infinitamente mais importante que tudo isto é ver que tudo isto é nada. Apenas bolas de sabão que vêm do espaço, flutuam suspensas um instante e nele se reabsorvem, como se nunca houvessem existido. Todas estas actividades e quem as faz nada são perante a imensa sabedoria dos mestres e seres realizados que as inspiram e perante o imenso esplendor do Real. É deles que tento e espero ser eterno discípulo. Rogo que nunca me vejam senão como tal.

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